quarta-feira, 12 de março de 2014

A mulher do futuro

"Uma amiga um dia encheu-se de coragem e me perguntou "você era muito diferente, não era?". Eu? Sou tão misteriosa que não me entendo. Ora, quem de nós não está sempre diferente, sempre mudando? Você mesma não sente que mudou? Desde que nos conhecemos? O melhor é que vai continuar mudando e o melhor ainda é que mesmo que eu esteja aqui para ajudar, no fundo, tudo isso se passa entre você e você mesma. Mas para falar consigo mesma não adianta telefonar, minha amiga, vai dar sinal de ocupado. Você é uma mulher do seu tempo e do tempo que virá. Cabe a você, e só a você, inventar o seu futuro, inventar o seu caminho.
A primeira pergunta se que impõe é: o que é mesmo que você quer da vida? Talvez você descubra que há duas ou três coisas que põe acima de tudo no mundo e saber disso é um passo importante. Mas o que você precisa fazer para conseguir o que quer? Algum sacrifício, isso é quase certo. Mas é quase certo também, que se você quer mesmo o que quer, o sacrifício vale a pena. Sabe o que há de mais profundo e arriscado nessa aventura? É que você está tentando a alegria e isso é muito arriscado. Poucas pessoas, pouquíssimas aliás, vivem com alegria, ou estão lamentando os erros dos outros ou se preocupando com os problemas de amanhã. Viver no passado também não é solução. Alguém já disse, inclusive, que para ser feliz, uma mulher precisa apenas de duas coisas: boa saúde e memória ruim. Vou explicar.
Memória ruim quer dizer esquecer o que nos causou desgosto e lembrar só das horas boas. A felicidade e o futuro, você só pode construir progressivamente, dia após dia. Você está parecendo um personagem de desenho animado, minha amiga. Só que ao invés de estar amarrada a lata barulhentas, está amarrada as próprias preocupações. Caminhar assim é bem mais difícil, não é? Se você se habituou ao o pessimismo então, pior. O dia de amanhã já fica logo com ar de chuva que vem, que já veio. Aproveite para deixar de lado pensamentos e sentimentos que fazem ferver, como ambição, ressentimentos e sonhos impossíveis.
Sonhar é muito bom, mas há vários modos de sonhar. Um deles consiste em cair em devaneios que levam longe, mas como se faz para voltar? Quando se dorme fora de hora, o despertar é ruim. Se é verdade que do chao não se passa, também é verdade que quanto mais alto se está, maior a queda. Outra variedade de devaneio é não enfrentar os fatos, o que também quer dizer não enfrentar o presente. Só que o nosso dever é justamente com o momento presente, sem isso nem haverá o futuro. Gosto muito de astrologia, cartomancia e ciências ocultas, mas ainda não vi nada disso mudar o futuro, nem o passado, é claro. Esse, você já mudou. Mas que importa? Os verdadeiros tesouros se disfarçam no presente, você tem agora o tormento da liberdade e tem que tomar conta do assunto, minha amiga. Os próximos passos você vai ter que dar sozinha.
Isso está com cara de adeus.. e vou contar um segredo: não gosto de ver nada acabar, até o sol se pondo e anunciando um dia que morre, às vezes é um pouco triste, não acha? Mas vou já-já ficar feliz porque a felicidade está mesmo é dentro da gente, tão perto. Por isso sempre se pode encontrá-la de novo, a vida continua, continua sempre, e a tragetória não é apenas um modo de ir, a tragetória somos nós mesmos, matéria de viver, nunca se pode chegar antes e temos que ir, virando as páginas como quem vira as folhas do calendário a cada dia, cada mês e cada ano.
E o futuro? Ah... o futuro. Esse virá por si mesmo, quando menos se esperar, lá estaremos nós em 1970, em 1990, no ano 2000 e depois em 2010, 2011, 2012, 2013! E lá eu sei, haverá uma mulher como eu. Mas atenção: a esperança não é para amanhã, a esperança é esse instante, como agora, é esse momento justo em que você me ouve. E nesse nosso último minuto juntas, se eu ainda tivesse que lhe dar um conselho, eu diria apenas: faça o favor de facilitar o caminho da esperança. Seja feliz, minha amiga. E seja sempre, acima de tudo, mulher."
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