segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Ela

Ela nunca havia experimentado ir àquele lugar, nunca tinha ousado sair de sua cidade - até o dia em que algo dentro de si, algo bem pequeno como uma cereja, a empurrou para seguir em frente com o que sua própria voz dizia. Deixou as vozes alheias de lado e seguiu seu caminho. O começo foi bem interessante: escolheu uma floresta, deparou-se com uma linda trilha. Não tinha em mente o caminho a ser feito - na verdade, decidiu que seguiria um passarinho que voava por lá. Horas passavam, e era como se o cansaço não a alcançasse, ela continuava seguindo o canto do pequenininho - até que reparou que estava em frente a uma caverna, profunda e muito convidativa. Seu guia deixou de ter asas, sua curiosidade é que estava no comando. Embora a curiosidade e ansiedade de conhecer o lugar fosse grande, ela foi cuidadosa, não corria entre as paredes de pedra, não tinha certeza se conseguiria andar normalmente naquele solo - mesmo que fosse feito da terra mais fofa e o mais confortável possível para os pés.
Após a temporada na floresta, ela pensou que já estava na hora de voltar a cidade, mas não a sua, ela queria o anonimato de uma nova cidade, descobrir a história e cultura do lugar. Já no primeiro dia, um vendedor de loja ofereceu-lhe, muito gentilmente, uma caixa de chocolate e, ainda surpresa, ela aceitou. Andou pelas ruas observando a embalagem que acabara de ganhar, seus olhos não prestavam atenção em mais nada. Como não queria estragar a própria sensação de surpresa, nunca abria a caixa de uma vez e, sendo assim, conheceu o conteúdo por inteiro apenas dias depois. Havia algo de extraordinário alí, ela tinha a sensação de que os chocolates apareciam nos lugares que ela tinha certeza de ter esvaziado levando o doce à boca, mas eles surgiam e estavam na frente de seus olhos, não conseguia encontrar uma solução, então devorava os bombons até não aguentar. 
Num dia de sol, um entregador de pizza passou por ela e ofereceu uma. Ela achou um pouco estranho, logo de manhã comer essa massa, e também nunca havia ganhado uma pizza inteira, normalmente, quando conseguia, era apenas as bordas. Mas ela resolveu aceitar, guiada pela vontade de experimentar a sensação de comer uma pizza inteira. O resultado, claro, foi de deixar o sorriso em seu rosto por muito tempo. Ela adorou conseguir todos os pedaços e não alguns pequenos.
Ela, que lá atrás resolveu seguir seu caminho, agora permanecia em seu destino; passou outono, inverno, chegou a primavera! E então veio o verão, o outono, o inverno novamente e ao que tudo indicava, a primavera não seria repetida apenas uma vez.

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