domingo, 3 de maio de 2015

A (in)feliz história de um casal

Em um dia na Terra, nasceram dois meninos. Com o passar do tempo, a personalidade de cada um aparecia. Matheus sempre foi um bom menino. Bom aluno na escola, o orgulho dos pais, bonito, inteligente, era tímido, é verdade, mas possuía quase todas as boas qualidades que um filho pode ter. Rodrigo já era diferente, era sim um bom filho, mas sua presença sempre chamava atenção, corria para todos os lados, fazia todos rirem, dava mais trabalho aos pais. Matheus adorava carrinhos e luta. Rodrigo preferia ficar em casa e brincar com bonecas. Matheus atendia as expectativas dos pais. Rodrigo causava preocupação: como o filho poderia desejar brincar de boneca?! Os anos passaram, a pré-adolescência chegou. Nas aulas de educação física, Matheus era um dos melhores no futebol, enquanto Rodrigo observava longe, na arquibancada. Na área do amor, Matheus até tinha suas seguidoras atrás de um romance, mas nenhuma era muito especial. Rodrigo conseguiu uma namorada, mas não durou muito tempo. Mais alguns anos passaram e agora já no final da adolescência, o tempo trouxe uma surpresa: os dois ficaram próximos e em pouco tempo, melhores amigos. A cada dia e semana a amizade crescia numa velocidade anormal. Uniram-se. Aconteceu do amor aparecer para os dois - apaixonaram-se um pelo outro.
Formaram (mais) um casal na Terra e tornaram-se parte de uma minoria. Matheus nunca imaginou que entraria para esse grupo - Rodrigo sempre soube. De qualquer jeito, os dois nunca quiseram sofrer por isso. Não viam nada de errado em amar outra pessoa, independente do gênero. Matheus tornou-se uma decepção para os pais, mesmo que estes nunca tenham obtido uma resposta clara da situação do filho, supostamente "influenciado". Rodrigo passava por constantes tentativas de conversão - para os pais, o filho estar junto de outro garoto era algo inadmissível.
Nada disso mudava o fato dos dois garotos se amarem.
Entretanto, todas as complicações que surgiam por causa desse amor os fazia questionar o motivo de serem assim, afinal quem escolheria ter uma vida de constantes privações? Não demonstre carinho a pessoa amada em público, nada de mãos dadas ou atitudes suspeitas; aguente pessoas desconhecidas gritarem palavras de forma pejorativa; aguente ser motivo de fofoca entre as pessoas enquanto não faz nada de errado; seja motivo de atenção e receba olhares quando resolver não se esconder; escute das pessoas mais próximas o quanto você é desprezível e motivo de vergonha. Alguém escolheria essa vida?, pensava Matheus. Muitas pessoas não entendiam esse amor, muito ao menos desejavam entender, e o condenava. Nada pode sair dos padrões e do esperado - como ficam as expectativas já criadas sobre os meninos desde bebês? Está criado o dilema familiar. A mãe de Matheus dizia proibir que o filho saísse com Rodrigo, caso contrário ele seria contagiado pela doença, "Você não precisa disso, Matheus", dizia a mãe dele. O adolescente não saberia o que é melhor para ele, quem sabe melhor que o próprio é a mãe, ela que sabe de todos os sentimentos e pensamentos que o filho tem, ela que está presente em todos os momentos da vida dele. Matheus é proibido de encontrar com quem ama, não é certo amar alguém do mesmo sexo, é anormal. Matheus sempre foi um bom menino, nunca demonstrou ter tendências a pertencer ao grupo estranho, ele não pode ser um desses. Mas já era tarde demais, Matheus foi contagiado e condenado por seus pais. Ele só queria ser quem realmente era e estar com a pessoa que amava, mas não poderia fazer isso, afinal isso não é normal! Matheus e Rodrigo continuavam apaixonados, perguntando-se o motivo de serem dois garotos num mundo de tamanha intolerância e eram, apesar de tudo, um casal como outro qualquer.
Para aqueles que acreditam que o amor é o mais importante.

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