domingo, 31 de janeiro de 2021

A cereja proibida já não tão proibida

Ela não sabia se continuaria com essa história ou não. O proibido se manteve em segredo, mas não por muito tempo. Como qualquer segredo que envolve muita curiosidade e desejo, mantê-lo seguro longe de todos era uma tarefa difícil. Ela sabia que precisava fazer algo, já que aquela sala, com aquela cereja, estava tirando seus momentos de tranquilidade.

Após alguns dias, ela decidiu que não manteria mais em segredo. Percebeu que tinha necessidade de voltar àquela sala, mesmo que isso significasse ter que enfrentar o dilema recém-descoberto. Tomando todos os cuidados possíveis, com tensão, ansiedade e adrenalina no corpo, ela foi rumo àquela sala.

Somente as pessoas que fossem frequentadoras daquela casa poderiam pegar a cereja, ela sabia disso. Mas percebeu que a vontade de pegar aquela fruta era tão grande que não importava se ela se tornaria frequentadora da casa com as pessoas que eram julgadas e vistas de modo estranho por uma parte do grupo que sempre fez parte.

Ela parou em frente à porta. 
Respirou fundo. 
E entrou. 

Naquele momento, ela não se sentia mais assustada, mas com uma mistura de ansiedade pelo que viria em alguns instantes. Ela estava decidida a finalmente pegar aquela cereja. A preocupação com o grupo a qual sempre pertenceu estava em segundo plano, ela nem pensava nisso, o foco naquele momento era conseguir o que queria.

Ela subiu a estante, pegou a caixa de vidro e a abriu lentamente, com muito cuidado - mesmo que internamente estivesse completamente agitada, ela não queria ter qualquer movimento que a fizesse quebrar a caixa de vidro. Quando finalmente teve o primeiro contato com aquela cereja, sentiu um sabor que nunca havia sentido antes. Ficou encantada com tudo que sentiu por finalmente ter pego o que queria.

Passaram-se vários anos daquela descoberta. O grupo que ela havia pertencido durante toda vida, até o primeiro contato com a cereja, seguia olhando com estranhamento para os moradores daquela casa. Ela, após tantos anos, já havia perdido a conta de quantas cerejas provou desde aquela primeira vez. Mas diferentemente de alguns daquela casa, ela ainda não poderia ser vista por todos como moradora de lá - para chegar a esse ponto havia outros desafios que precisavam ser enfrentados. Então ela mantinha uma vida dupla, mas sabendo exatamente a qual lugar pertencia, sem qualquer sentimento negativo relacionado a isso.

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