Depois de alguns anos, se tornou cansativo voltar para o grupo onde cresceu, fingir que não frequentava aquela casa e que não provava aquelas cerejas vistas como diferentes.
O contato dela com esse grupo visto como excluído começou a durar tanto tempo que o grupo onde que ela cresceu começou a perceber quando ela se ausentava e chegava mais tarde. E então começaram a desconfiar dos momentos de sumiço. As suspeitas só aumentavam e ela sabia disso.
Assim chegou a fase dos interrogatórios: o líder do grupo dela a acusava de frequentar aquela casa diferente e exigia saber a verdade. Ela não podia confirmar, a responsável pela sala das cerejas ainda não havia dado permissão. Essa situação durou por anos.
Em um momento ela se cansou de continuar com a vida dupla, não aguentava mais os interrogatórios e fingir que não ia àquela casa diferente. Criou coragem e decidiu que era hora de confirmar a dúvida daquele grupo. Contou à responsável pela sala das cerejas que não dava mais para adiar a verdade.
Ela conversou com o grupo onde ela nasceu, confirmando que ela era sim frequentadora da casa diferente. As reações foram muito melhores do que ela imaginava: se o pior cenário era ela ser rejeitada pelo grupo, o que recebeu foi apenas escuta do que ela precisava falar.
Depois de tantos anos com a vida dupla, ela ainda não acreditava no que tinha feito. A sensação é que ainda levaria um tempo até ela acreditar realmente no que havia feito. Mas uma coisa era certo: ela havia se libertado de um peso que carregava há anos e, mesmo não sentindo no momento, só de racionalmente saber o que tinha feito, já era um alívio.
Ela seguiria com as cerejas sem ter que se esconder do grupo dela. E isso era maravilhoso.
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